A lenda de Irôko

Histórias do Moiro para se contar em volta da fogueira...


No começo dos tempos, as primeiras árvores plantadas foram os Irôkos, Na mais velha das árvores de Irôko, morava seu espírito, e o espírito de Irôko era capaz de muitas mágicas e magias...
Irôko divertia-se assombrando os outros... À noite saia com uma tocha na mão, assustando os caçadores... E quando não tinha o que fazer ficava a brincar com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco.
Fazia muitas mágicas, para o bem ou para o mal. Todos temiam Irôko e seus poderes...
Quem o olhasse de frente, nos olhos, enlouquecia e podia até morrer de medo.

Numa certa época, logo após a grande guerra das trevas, nenhuma das mulheres das aldeias engravidava... Já não havia crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados.
Foi então que as mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Irôko. Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco, Não ousavam olhar para a grande planta face a face, suplicaram a Irôko, pediram a ele que lhes desse filhos...

Já esperto e ligeiro ao lidar com o espírito humano Irôko quis logo saber o que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores, e prometeram a Iroko o que tinham aa oferecer no momento: milho, inhame, frutas, etc... Cada uma prometia o que o marido tinha para dar.

Uma das suplicantes, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer... Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Irôko o primeiro filho que tivesse...

Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Irôko suas prendas. Em torno do tronco de Irôko depositaram suas oferendas. Assim Irôko recebeu milho, inhame, frutas, etc...

Olurombi contou toda a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido, naturalmente, apegaram-se demais ao menino prometido.
No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido... E o tempo passou... Olurombi mantinha a criança longe da árvore e, assim, o menino crescia forte e sadio.
Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Irôko, entretida que estava, vindo do mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore.

Disse Irôko: “Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa.”
E transformou Olurombi num pássaro e ele voou para a copa de Irôko para ali viver para sempre.

Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda parte... Ele mantinha o menino em casa, longe de todos.
Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava o nome de cada oferenda feita a Irôko... Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou
o tal pássaro, que cantava assim:

"...A que prometeu frutas trouxe as frutas... A que prometeu inhames trouxe os inhames... A que prometeu milho de o milho... Só não cumpriu a palavra a que prometeu o filho..."

Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Irôko, ele pensou.

Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto seu pequeno filho? Ele pensou e pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Irôko, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido. O fez com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Depois poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada de ervas sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou o menino de pau para Irôko e o depositou aos pés da árvore sagrada.
Irôko gostou muito do presente. Era o menino que ele tanto esperava! E o menino sorria sempre, passava a sensação de alegria. Irôko apreciou sobremaneira o fato de que ele jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam... Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas com medo de o olhar de frente.
Irôko estava feliz. Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia os pés no chão e cantava animadamente.

Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa, Irôko devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para casa, voltou para o marido artesão e para o filho, já crescido e enfim libertado da promessa.

Alguns dias depois, os três levaram para Irôko muitas oferendas. Levaram espigas de milho, inhame, frutas, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi.

Até hoje todos levam oferendas a Irôko.

Porque Irôko dá o que as pessoas pedem.

E todos dão para Irôko o prometido...

Senão...


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2 Comentários:

Blogger Pietro disse...

"...Onde a magia e a fantasia se encontram..."

Esse conto é baseado na lenda e no culto de Irôko.
Irôko foi associado ao 'Vodun' daomeano, 'Loko' dos negros da dinastia Jeje e ainda ao inkice 'Tempo', dos negros bantos.

Irôko, na verdade, é o orixá[xá=protetor ori=cabeça] dos bosques nigerianos, e lá é muito temido, ninguém se atrevia a entrar num bosque sem antes reverenciá-lo.

No Brasil - com os candomblecistas e umbandistas também - é nos pés da gameleira-branca que fica seu assentamento e também é ali que são oferecidas suas prendas.


Adaptei a linda lenda p'ra os contos de khali. ^^


Grande Abraço Fraterno!

3 de janeiro de 2009 às 09:40  
Blogger John Campos disse...

^^
Ficou bom o conto Peter...

E que medo dessas árvores ai, tenho que mensurar depois o quanto elas não ficaram na cabeça da Lenn quanto ela tinha os xiliques dela lá.
haha
Mas isso é outra história...

3 de janeiro de 2009 às 10:10  

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